quinta-feira, 1 de agosto de 2013

As espionagens da CIA

 O governo brasileiro descobriu que era espionado pelos Estados Unidos pela primeira vez em 2001, quando o então ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência, general Alberto Cardoso, disse em depoimento à Câmara dos Deputados que os EUA desenvolveram um projeto de espionagem.


 O EUA se unira a Reino Unido, Irlanda, Austrália, Canadá e Alemanha para criar o Echelon, que podia interceptar e-mails, voz e fac-símile, segundo um relatório do Parlamento Europeu divulgado naquele ano. O general, entretanto, disse que França, Itália e Rússia também tinham como espionar.
 Já em 2008, o engenheiro eletrônico Otávio Carlos Cunha da Silva, diretor do Cepesc (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para Segurança das Informações) da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), confirmou a existência do Echelon e mais: “Há o Echelon americano, o Echelon europeu”, disse.
 Segundo ele, toda comunicação “que está no ar” pode ser interceptada pelo projeto, que seria controlado pela NSA (Agência de Segurança Nacional) dos Estados Unidos, a mesma que, segundo o ex-agente Edward Snowden, tem vigiado o mundo todo por meio da internet.
 Foram feitos vários relatos sobre a atuação do Echelon desde a década de 1970, mas há indícios de que ele foi criado em 1948, com a assinatura de um acordo de cooperação de inteligência entre Reino Unido, EUA, Austrália, Canadá e Nova Zelândia.



Entenda o caso Snowden
O ex-técnico da CIA Edward Snowden revelou segredos de segurança do Estados Unidos e foi acusado criminalmente de espionagem pelo governo americano. Foram dele as informações que permitiram à imprensa internacional revelar programas de vigilância do governo americano contra a população – utilizando servidores de empresas como Google, Apple e Facebook – e também contra diplomatas e governos da União Europeia, que reagiram de forma negativa.
As revelações iniciais, publicadas no início de junho nos jornais “Guardian”, britânico, e “Washington Post”, americano, levaram Snowden a ser ostensivamente procurado pelas autoridades americanas.
Em 31 de julho, o "Guardian" revelou documentos que mostram que um sistema permite à inteligência dos EUA supervisionar "quase tudo o que um usuário típico faz na Internet".
A primeira informação de seu paradeiro o colocou em um quarto de hotel em Hong Kong, onde ficou escondido até os EUA pedirem sua extradição e pressionarem a China a cumprir o pedido.
No dia seguinte à exigência de extradição, Snowden embarcou em um voo para Moscou, no dia 23 de junho. O americano permaneceu na área de trânsito do aeroporto de Sheremetyevo por 40 dias, em um "limbo" jurídico, uma vez que não tinha documentos para entrar em território russo – seu passaporte foi revogado pelos EUA.
No dia 1º de agosto, Snowden recebeu asilo da Rússia por um ano, e de posse dos documentos necessários, deixou o aeroporto. Seu destino não foi anunciado - mas segundo o site especializado em vazamento de documentos WikiLeaks, o americano foi levado para um local seguro
Chegada à Rússia
A viagem à Rússia foi feita com o apoio do WikiLeaks, de Julian Assange, que enviou Sarah Harrison, uma das militantes do grupo, para acompanhá-lo.
Da Rússia, Snowden pediu asilo político a 21 países. Três deles se dispuseram a abrigá-lo - Venezuela, Bolívia e Nicarágua.
Em 12 de julho, Snowden disse que pediria asilo temporário à Rússia, para depois ir a um país da América Latina. O pedido foi finalmente feito em 16 de julho, segundo um advogado ligado ao Kremlin.
Em 15 de julho, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, acusou os EUA de bloquearem Snowden em Moscou, ameaçando os demais países. Dois dias depois, no dia 17, Putin disse priorizar a relação com os EUA acima de tudo. "Advertimos Snowden que qualquer atividade dele que possa prejudicar a relação Rússia-EUA é inaceitável", disse.
Ainda no dia 17, o advogado Anatoly Kucherena, que auxiliou Snowden no seu pedido de asilo provisório à Rússia, disse que o americano deveria deixar em breve o aeroporto de Moscou e que existe a possibilidade de que ele peça cidadania russa. Segundo o advogado, Snowden não tem planos de deixar o país.
Desdobramentos no Brasil
Os desdobramentos mais recentes do caso apontam que o Brasil está entre os países monitorados pelo governo dos EUA.
Reportagens do jornal "O Globo" publicadas a partir de 6 de julho, com dados coletados por Snowden mostram que milhões de e-mails e ligações de brasileiros e estrangeiros em trânsito no país foram monitorados.
Ainda segundo os documentos, uma estação de espionagem da NSA funcionou em Brasília pelo menos até 2002. Os dados também apontam que a embaixada do Brasil em Washington e a representação na ONU, em Nova York, também podem ter sido monitoradas.
O governo brasileiro recebeu com grave preocupação a notícia de que a comunicação eletrônica dos brasileiros era alvo de espionagem dos norte-americanos. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse que o governo solicitará esclarecimento a Washington e ao embaixador norte-americano no Brasil.
Questionado sobre as denúncias, o governo norte-americano afirmou que não discutirá essas questões publicamente, mas intramuros diretamente com a estrutura diplomática do país.
Outros países da América Latina também são monitorados, segundo os dados. De acordo com o jornal, situações similares ocorrem no México, Venezuela, Argentina, Colômbia e Equador. O interesse dos EUA não seria apenas em assunto militares, mas também em relação ao petróleo e à produção de energia.
Evo Morales
Em meio às especulações sobre seu destino, o avião do presidente Evo Morales teve que pousar em Viena após ter sua passagem no espaço aéreo da Espanha e outros países europeus impedida por uma suspeita de que Snowden estaria na aeronave. Ele não foi encontrado no avião. O incidente causou protestos de Morales, que afirmou não ser criminoso.
No dia 1º de julho, Snowden rompeu seu silêncio anterior e afirmou que, apesar da intensa pressão de Washington, se sente livre para divulgar mais informações confidenciais. Ele declarou ainda que se sente ilegalmente perseguido pelo governo americano.
"Dada as circunstâncias, é improvável que eu beneficie de um julgamento justo ou de um tratamento apropriado antes do julgamento", afirmou, acrescentando que corre risco "de prisão perpétua ou pena de morte".
Snowden também acusou o presidente Barack Obama de ter ordenado que seu vice-presidente, Joe Biden, pressionasse os líderes dos países aos quais pediu asilo para conseguir sua extradição.
Uma semana depois, o presidente boliviano disse estar disposto a dar asilo a Snowden como "justo protesto" pelo "atropelo" sofrido na Europa.
Monitoramento da população
Snowden teve acesso às informações reveladas quando prestava serviços terceirizados para a Agência de Segurança Nacional (NSA) no Havaí. Ao procurar os jornais para fazer as revelações, ele deixou o estado americano e seguiu para Hong Kong.
O jornal “The Guardian” revelou que os serviços secretos de segurança norte-americanos já rastreiam chamadas de telefones celulares da operadora Verizon e informações da internet oriundas de companhias como o Google e o Facebook. Segundo o "Washington Post" as autoridades federais dos EUA têm usado os servidores centrais destas empresas para ter acesso a e-mails, fotos e outros arquivos dos usuários, permitindo a analistas rastrear movimentos e contatos das pessoas.
A informação a respeito dos serviços secretos desencadeou um interminável debate nos Estados Unidos e no exterior sobre o crescimento do alcance da NSA, que expandiu seus serviços de vigilância dramaticamente na última década. Agentes norte-americanos garantem que a NSA atua dentro da lei.
A decisão de Snowden de revelar sua identidade, bem como seu rosto e outros dados pessoais, reforça o apelo deste que já é um dos maiores casos de vazamento de dados secretos do governo norte-americano na história, e aumenta ainda mais o constrangimento do presidente Barack Obama.
Ao se apresentar ao mundo, ele disse que se sentiu na obrigação de denunciar, mesmo a um custo pessoal, os descomunais poderes de vigilância acumulados pelo governo dos EUA. Ele acrescentou que poderia ter permanecido anônimo, mas que considerou que sua mensagem teria mais ressonância se viesse de uma fonte identificada.
"O público precisa decidir se esses programas e políticas são certos ou errados", disse Snowden ao The Guardian em um vídeo de 12 minutos divulgado pelo site do jornal londrino.
Snowden também sabe que sua opção o expõe demais às autoridades norte-americanas. O Guardian o comparou a Bradley Manning, um soldado agora em julgamento por supostamente ajudar forças inimigas, que vazou para o Wikileaks documentos militares sigilosos.
O atual espião afirmou que deixou a namorada no Havaí sem contar a ela para onde iria, e se disse ciente do risco que corre, mas pensou que toda a mobilização em torno da sua descoberta faria o risco valer a pena.
"Eu estou disposto a me sacrificar porque eu não posso, em sã consciência, deixar que o governo dos Estados Unidos destrua a privacidade, a liberdade de Internet e os direitos básicos de pessoas em todo o mundo, tudo em nome de um maciço serviço secreto de vigilância que eles estão desenvolvendo."
Espionagem contra a União Europeia
Três semanas após as primeiras revelações, a revista alemã “Der Spiegel” publicou reportagem afirmando que a União Europeia era um dos "objetivos" da NSA, acusada de monitorar informações em todo o mundo.
A publicação sustentou as acusações com documentos confidenciais a que teve acesso graças às revelações de Snowden.
Em um dos documentos, com data de setembro de 2010 e considerado "estritamente confidencial", a NSA descreve como espionou a representação diplomática da UE em Washington.
Para executar as atividades de espionagem, microfones teriam sido instalados no edifício e a agência teria entrado na rede de informática, o que permitia a leitura dos e-mails e documentos internos.
Desta maneira também foi vigiada a representação da UE na ONU, segundo os documentos, nos quais os europeus são classificados de 'objetivos a atacar'.
A NSA chegou a ampliar as operações até Bruxelas. "Há mais de cinco anos", afirma a Der Spiegel, os especialistas em segurança da UE descobriram um sistema de escuta na rede telefônica e de internet do edifício Justus-Lipsius, sede principal do Conselho da UE, que alcançava até o quartel-general da Otan na região de Bruxelas.
A representação da UE na ONU também foi objeto de uma vigilância similar, segundo a revista.
Em 2003, a UE confirmou a descoberta de um sistema de escutas telefônicas nos escritórios de vários países, incluindo Espanha, França, Alemanha, Grã-Bretanha, Áustria e Itália.
O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, se mostrou "profundamente preocupado e impactado com as acusações de espionagem das autoridades americanas nos escritórios da UE".
Ele disse que se as acusações forem comprovadas, isto prejudicaria consideravelmente as relações entre UE e Estados Unidos. Schulz pediu "um esclarecimento completo e informações adicionais rápidas" das autoridades americanas.
Em resposta, a Direção Nacional de Inteligência (ODNI) americana disse que os Estados Unidos responderão através da via diplomática ao pedido de explicações da UE.
"O governo americano responderá de maneira adequada, por via diplomática e através do diálogo Estados Unidos/União Europeia entre especialistas da inteligência, que os Estados Unidos propuseram instaurar há algumas semanas", afirmou a ODNI em um comunicado.


Estados Unidos evitam responder denuncias de espionagem

Brasília – O governo dos Estados Unidos (EUA) informou que não responderá publicamente ao pedido de esclarecimento feito pelo Ministério das Relações Exteriores sobre a existência de um sistema virtual de espionagem de cidadãos brasileiros. O assunto é tema de uma reunião na Embaixada dos Estados Unidos em Brasília na manhã de hoje (8). A assessoria da embaixada diz que, por enquanto, aguarda orientações de Washington para se manifestar sobre o tema.
As informações sobre espionagem aos cidadãos brasileiros vieram à tona a três meses da primeira visita de Estado da presidenta Dilma Rousseff aos Estados Unidos. A visita da presidenta está prevista para 23 de outubro e foi confirmada pelas autoridades. A visita de Estado é considerada especial pelos norte-americanos por ser autorizada apenas a alguns parceiros.
O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, está prestes a deixar o cargo. Para o lugar dele foi designada a diplomata Liliana Ayalde. A informação foi confirmada há um mês, mas por enquanto não há data para a substituição ocorrer. Ayalde é atualmente secretária assistente adjunta de Estado para Cuba, a América Central e o Caribe, no setor de Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado Americano.
Por e-mail, o Departamento de Estado norte-americano informou que será dada a resposta apropriada ao pedido brasileiro. “O governo dos Estados Unidos vai responder apropriadamente a nossos parceiros no Brasil pelas vias diplomáticas e de inteligência. Não vamos comentar publicamente ou especificar supostas atividades de inteligência. Como política, deixamos claro que os EUA obtêm inteligência estrangeira do tipo coletado por todas as nações”, diz o texto.
Ontem (7) o governo do Brasil pediu explicações aos Estados Unidos sobre as informações referentes à espionagem das comunicações de cidadãos brasileiros pela Agência Nacional de Segurança daquele país (NSA, na sigla em inglês).
O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse que foram pedidos esclarecimentos aos Estados Unidos por intermédio da Embaixada do Brasil em Washington e também ao embaixador dos Estados Unidos no Brasil. O chanceler ressaltou que recebeu com “grave preocupação” a notícia de que contatos eletrônicos e telefônicos de seus cidadãos estariam sendo monitorados.
Patriota disse que o governo brasileiro lançará iniciativas na Organização das Nações Unidas (ONU) pelo estabelecimento de normas claras de comportamento para os países quanto à privacidade das comunicações dos cidadãos e a preservação da soberania dos demais Estados. O Itamaraty pretende ainda pedir à União Internacional de Telecomunicações (UIT), em Genebra, na Suíça, o aperfeiçoamento de regras multilaterais sobre segurança das telecomunicações.
O escândalo sobre o monitoramento das comunicações privadas de cidadãos e empresas de dentro e de fora do país pelo governo dos Estados Unidos veio à tona após Snowden revelar a prática. Os dados eram vigiados por meio do Prism, programa de vigilância eletrônica altamente secreto mantido pela NSA.
O norte-americano pediu asilo político a 21 países. Até o momento, Bolívia, Venezuela e Nicarágua se ofereceram para recebê-lo.

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